À medida que nos aproximamos do penúltimo sábado de novembro, o Brasil se prepara para o “Dia Nacional de Combate à Dengue”, data criada pela Lei nº 12.235/2010. Em diversos municípios, a data marca mutirões e atividades de conscientização que visam reduzir os casos da doença. No entanto, apesar dos esforços, os dados recentes mostram que o avanço da dengue continua preocupante, e os números seguem aumentando. Em 2024, o aumento no número de casos foi de 400% em comparação ao ano anterior.
O Brasil enfrentou seu primeiro surto significativo nos anos 1980 e, desde então, a dengue vem se tornando um problema persistente, com picos epidêmicos recorrentes. A dengue é uma doença viral transmitida principalmente pela picada do mosquito Aedes aegypti, vetor de outras arboviroses, como zika e chikungunya. O vírus possui quatro sorotipos distintos (DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4), o que significa que uma pessoa pode contrair a dengue até quatro vezes ao longo da vida. Isso aumenta a complexidade do combate e eleva os riscos para a população, pois novas infecções por sorotipos diferentes do vírus são associadas a quadros mais graves, como a dengue hemorrágica.
A introdução da vacina Qdenga, disponível gratuitamente em algumas regiões do Brasil, representa um passo importante na luta contra a dengue. A vacina é direcionada a adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária com significativa taxa de hospitalização. No entanto, a adesão ainda é baixa. Em Mogi Mirim (SP), por exemplo, apenas 17,1% dos jovens tomaram a primeira dose e apenas 2,7% retornaram para a segunda dose. Esse índice está muito aquém da meta de 95% estabelecida pelo Ministério da Saúde. As razões para a baixa adesão à vacina incluem falta de informação e desconfiança em relação à novidade. Por esse motivo, campanhas de conscientização mais eficazes e envolvimento comunitário são essenciais para ampliar a cobertura vacinal, especialmente em regiões de alta incidência da doença.
Durante o verão, é essencial intensificar as medidas de controle do Aedes aegypti, pois, essa estação se caracteriza por altas temperaturas e chuvas frequentes, criando condições ideais para a proliferação do mosquito. O período de maior incidência de casos costuma ocorrer entre outubro e maio. Sendo que historicamente, os picos de casos no Brasil ocorrem entre março e abril, coincidindo com o aumento do índice pluviométrico, embora possam variar de ano para ano nas diferentes regiões.
Entre as principais estratégias para controlar o Aedes aegypti, o uso de larvicidas e a aplicação de fumacê são métodos amplamente empregados. Os larvicidas são utilizados para eliminar as larvas do mosquito em locais onde o acúmulo de água é inevitável, como caixas d’água, ralos e reservatórios, evitando que as larvas cheguem à fase adulta. Em áreas com alta incidência de casos, o fumacê – pulverização de inseticida por meio de veículos adaptados – é aplicado para reduzir rapidamente a população de mosquitos adultos. No entanto, o fumacê é uma medida paliativa e temporária, pois afeta apenas os mosquitos em voo no momento da aplicação.
Diversas medidas inovadoras vêm sendo implementadas para combater a dengue, incluindo o uso de tecnologia. Em algumas regiões, drones estão sendo utilizados para identificar focos de Aedes aegypti em áreas de difícil acesso, auxiliando os agentes de combate às endemias a eliminar criadouros. Além disso, o método que consiste na introdução da bactéria Wolbachia nos mosquitos Aedes aegypti, tem mostrado resultados promissores. A bactéria impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se repliquem nos mosquitos, reduzindo a capacidade de transmissão.
A batalha contra a dengue no Brasil ainda enfrenta grandes desafios. A vacinação, o controle dos criadouros e as novas tecnologias de combate à proliferação, são passos promissores, mas insuficientes se não houver um compromisso de toda a sociedade. A participação ativa da população, com a eliminação de criadouros e adesão à vacina, somada a um investimento contínuo em saúde pública, é essencial para que possamos, um dia, reduzir os números relacionados a essa doença no país.
(*) Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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