Com a chegada dos dias frios e secos, muita gente percebe um incômodo recorrente na garganta: a tosse seca. Aparentemente inofensiva, ela pode ser apenas um reflexo passageiro das mudanças climáticas, mas também pode sinalizar problemas que vão de infecções virais a alergias ou até doenças mais sérias. Segundo o otorrinolaringologista Marcelo Antonio, do ambulatório de Rinologia do IOU – Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço, na Unicamp, entender o que está por trás da tosse seca é o primeiro passo para cuidar da saúde respiratória durante o outono e o inverno.
A garganta fala
Tosse é um mecanismo de defesa do organismo. Ela ocorre quando algo está irritando as vias aéreas, que são revestidas por uma mucosa sensível coberta por cílios microscópicos e muco. Esse muco funciona como uma areia movediça, que prende partículas de poluição, vírus, ácaros e outras substâncias indesejáveis, para serem eliminadas pelo corpo. “Nos dias frios e secos, essa mucosa resseca, o muco diminui e os cílios batem mais devagar. O resultado? A limpeza natural das vias respiratórias é prejudicada, e os receptores da tosse são acionados com mais frequência”, explica o médico.
Além disso, o uso de roupas guardadas com poeira, o aumento de tempo em ambientes fechados e o uso de aquecedores, que ressecam ainda mais o ar, contribuem para agravar o quadro. “Tudo isso cria um cenário perfeito para o surgimento ou agravamento da tosse seca.”
Viral, bacteriana ou alérgica? Eis a questão
Várias condições podem causar tosse seca. Entre as infecções virais mais comuns estão as chamadas IVAS (infecções de vias aéreas superiores), como rinites, rinossinusites, laringites e faringites, geralmente causadas pelo rinovírus. Outros vilões virais incluem o coronavírus, influenza, parainfluenza, adenovírus e o vírus sincicial respiratório.
Já entre as causas bacterianas, destacam-se a coqueluche (Bordetella pertussis), a pneumonia atípica e até a tuberculose, que pode começar com tosse seca. “Por isso, tosses persistentes, mesmo sem catarro, devem ser investigadas, especialmente em pessoas com histórico de contato com tuberculose”, alerta o especialista.
As alergias também entram na lista: poeira, ácaros, gramíneas, mofo e pólen – as duas últimas especialmente no sul do país – são alguns dos principais desencadeadores. Até doenças de pele, como dermatite atópica e lúpus, podem provocar reação cruzada no sistema imunológico e afetar a mucosa respiratória.
Pode até fraturar costela!
A tosse seca não deve ser subestimada. Além de afetar a qualidade do sono e o rendimento diário, pode ter consequências mais sérias. “Pacientes com osteoporose ou idosos podem ter fraturas de costela. Gestantes podem sofrer descolamento de placenta. Em cirurgias abdominais, a tosse pode até provocar hérnias. Sem contar a fadiga muscular para pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) ou fumantes, que já têm a musculatura respiratória comprometida”, alerta o médico do IOU.
Tratamento
O primeiro passo é eliminar ou controlar o fator irritante. Se for o frio, proteger-se com roupas adequadas. Se o ar está seco, é hora de investir em umidificadores, hidratação oral e lavagem nasal com soro fisiológico. “Evitar a poluição, produtos agressivos e manter a casa bem arejada também ajudam bastante”, orienta o Dr. Marcelo.
Entre os medicamentos, a escolha depende da causa. “Antialérgicos podem ajudar em quadros alérgicos. Inibidores de acidez são úteis se houver refluxo. Corticoides inalados são preferíveis aos orais em casos de inflamação importante. E, nos casos de asma, podemos associar broncodilatadores”, detalha.
Vale o alerta: xaropes expectorantes e mucolíticos, tão populares nas farmácias, não têm eficácia comprovada cientificamente e ainda podem causar efeitos colaterais. Já antitussígenos à base de codeína só devem ser usados com prescrição médica.
Métodos naturais
Além da hidratação e da lavagem nasal, o mel pode ser um aliado. “Pequenas porções ao longo do dia formam um revestimento na orofaringe, que alivia temporariamente a tosse em pessoas sem restrição ao seu uso”, explica.
Quando o muco entra em cena
A tosse produtiva é aquela com presença de catarro. Embora algumas pessoas acreditem que a cor do muco indica se é viral ou bacteriano, isso não é regra. “Muco verde ou amarelo, sem febre ou outros sinais de infecção, geralmente é viral. Já quando há febre alta, piora progressiva dos sintomas e mal-estar generalizado, pode-se suspeitar de infecção bacteriana”, enfatiza.
Dicas de prevenção
– Respirar sempre pelo nariz (inclusive à noite);
– Evitar choques térmicos;
– Manter janelas abertas por alguns momentos, mesmo no frio;
– Reduzir o uso de produtos irritantes e manter a limpeza de roupas de cama e estofados;
– Tratar adequadamente condições que obstruam o nariz, como rinite e desvio de septo;
– Manter bons níveis de vitamina A, C e D – esta última, com exposição solar moderada;
– Abandonar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.
Sobre o IOU
O Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço-IOU, na Unicamp, é um centro de excelência em saúde pública dedicado a milhares de pacientes do SUS, entre crianças e adultos. Preparando-se para atender 200 mil pessoas por ano e 4 mil cirurgias, o IOU oferece atendimento especializado de alta complexidade nas áreas de otorrinolaringologia, câncer de cabeça e pescoço, tratamento multidisciplinar de deficiência auditiva e distúrbios de respiração, deglutição, fonação, comunicação e sono.
Além de ser um hospital, o IOU é um local onde tecnologia e cuidado se unem para proporcionar uma nova chance para muitos. O IOU também é um polo de ensino, pesquisa e difusão de conhecimento, formando profissionais qualificados e contribuindo para o avanço no tratamento de doenças complexas, assegurando um legado de cuidado e inovação na medicina brasileira.
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ANTONIA MARIA ABDO ZOGAEB STEPHAN
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