A série ‘Adolescência’, da Netflix, aborda temas sensíveis que vêm preocupando especialistas, educadores e famílias: a radicalização online, a cultura incel e os impactos das redes sociais no desenvolvimento emocional e comportamental dos jovens. A produção ressalta como a falta de monitoramento adequado pode contribuir para que adolescentes vulneráveis se envolvam em ambientes virtuais tóxicos e até adotem comportamentos violentos.
O uso excessivo das redes sociais já se configura como um dos principais fatores de risco para a saúde mental na juventude. Entre os sinais de alerta estão os longos períodos diante de telas, o abandono de atividades cotidianas, alterações no sono, perda de apetite, isolamento familiar e social e queda no rendimento escolar.
Os pais devem ficar atentos quando observarem que o adolescente deixa de interagir com a família, passa a virar a noite em jogos online ou navegando em redes sociais. Esse isolamento pode indicar vício digital ou até esconder quadros mais graves, como depressão ou ansiedade.
Plataformas como o TikTok, por exemplo, exercem forte atração sobre meninas adolescentes. O consumo repetitivo de conteúdos como as “dancinhas” e desafios, embora pareça inofensivo, pode afetar a concentração, o desempenho nos estudos e a autoestima. A comparação constante com padrões de beleza irreais divulgados por influenciadores é outro fator que contribui para a insegurança e ansiedade.
Para jovens que já enfrentam conflitos familiares ou apresentam distúrbios emocionais, o impacto pode ser ainda mais intenso. Muitos acabam buscando nas redes sociais uma forma de suprir carências afetivas ou de expressar sua dor, tornando-se alvos fáceis para influenciadores e pessoas mal-intencionadas e comunidades virtuais perigosas.
Na deep web os grupos incentivam as jovens a não se alimentarem visando a magreza, pregam o ódio às mulheres ou promovem comportamentos autodestrutivos com desafios e jogos, o que representa uma ameaça real, principalmente para adolescentes emocionalmente fragilizados.
Outro ponto de atenção é o cyberbullying, que tem efeitos devastadores. Diferente do bullying tradicional, que geralmente acontece no ambiente escolar, o assédio virtual pode alcançar milhares de pessoas rapidamente. A exposição pública e a velocidade da propagação ampliam o sofrimento da vítima, podendo levar ao isolamento e, em casos extremos, ao suicídio.
O uso excessivo das redes também tem sido associado ao aumento da ansiedade e ao afastamento de vínculos sociais reais. A necessidade constante de validação e pertencimento no ambiente digital pode prejudicar o bem-estar emocional e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais.
No entanto, a melhor forma de proteger os jovens não é a proibição total do uso das redes, mas sim o acompanhamento ativo. Ferramentas de controle parental, limites de tempo de uso e, principalmente, o diálogo aberto e sincero entre pais, filhos e educadores são fundamentais para prevenir danos.
Os pais precisam estar presentes, conversar, entender o que os filhos consomem e com quem interagem e até pedir sugestões para eles, mas sempre lembrando que eles precisam ter limites e monitoramento. Pais devem estabelecer uma relação de autoridade e respeito com os filhos. A falta de respeito à autoridade é algo pontuado na referida série. A escola também deve trabalhar junto com a família, observando o comportamento e o desempenho escolar do aluno e alertando os pais, caso necessário.
Se algum sinal de dependência ou problemas mais sérios, como ansiedade ou depressão, for percebido, é o momento certo para procurar ajuda profissional, como psicólogos ou psiquiatras especializados.
A discussão proposta pela série ‘Adolescência’ ressalta a importância de uma análise crítica do papel das redes sociais no desenvolvimento dos jovens e reforça a necessidade de políticas e práticas que protejam esse público das armadilhas do mundo digital.
Andreia Calçada é psicóloga clínica e jurídica
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MARIA INÊS DIAS DELL’ERBA
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