Estamos em outubro, mês marcado por campanhas de conscientização sobre o diagnóstico precoce e a prevenção do câncer de mama. No Brasil, esse tipo de câncer é o segundo mais prevalente entre as mulheres, atrás apenas do câncer de pele.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, entre 2023 e 2025, surgirão 73.610 novos casos de câncer de mama. Sem contar os tumores de pele não melanoma, esse é o câncer mais incidente no país. A região Sudeste apresenta o maior risco, com 84,46 casos a cada 100 mil mulheres, seguida pela região Sul (71,44 casos), Centro-Oeste (57,28), Nordeste (52,20) e Norte (24,99).
Esses dados levantam a questão se a prevalência do câncer de mama realmente é maior no Sul e Sudeste, ou se as outras regiões enfrentam problemas de subnotificação. Essa disparidade pode ser atribuída à presença de parques tecnológicos nessas áreas, que facilitam a realização de exames e, consequentemente, o diagnóstico e tratamento.
Esses números ressaltam a importância do diagnóstico precoce. Quanto mais cedo uma doença é detectada, melhor o prognóstico para o paciente. No caso do câncer de mama, o estágio em que é descoberto pode ser decisivo para a preservação da mama e para a prevenção de metástases e óbitos. Assim, é imprescindível que as mulheres tenham acesso a médicos e exames, como a mamografia, considerada o padrão ouro para o diagnóstico dessa doença.
De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), cerca de 23% dos brasileiros possuem plano de saúde, facilitando o acesso a consultas, exames e tratamentos. No entanto, 77% da população depende do Sistema Único de Saúde (SUS) para cuidados médicos.
Embora existam políticas públicas de prevenção, como campanhas de conscientização e parcerias com ONGs, o acesso aos exames de mamografia ainda é um desafio. O tempo de espera para esses exames varia significativamente entre as regiões: em Curitiba, as pacientes conseguem agendar a mamografia em uma semana, enquanto em Brasília a espera é de cerca de cinco meses e em São Paulo relatos indicam até 18 meses. Em áreas isoladas, como o interior do Amazonas, as mulheres podem levar mais de um dia de viagem para chegar a um hospital.
Apesar dos investimentos na saúde, os desafios relacionados à implementação de políticas públicas permanecem muitos, como a escassez de mamógrafos e problemas relacionados à infraestrutura.
No Brasil, apenas uma em cada quatro mulheres realiza a mamografia anualmente. Isso é bem abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere que pelo menos 70% das mulheres com mais de 40 anos façam o exame uma vez ao ano. A recomendação para a mamografia de rastreamento varia conforme diferentes diretrizes e políticas de saúde. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a American Cancer Society (ACS) indicam que o rastreamento deve começar aos 40 anos, com exames anuais subsequentes. Em contraste, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) sugere que a mamografia deva ser realizada a partir dos 50 anos.
As filas de espera longas podem adiar o diagnóstico e piorar o estado de saúde das mulheres com lesões oncológicas na mama, o que pode resultar em sua necessidade de tratamentos mais agressivos e em consequências severas para a saúde.
É claro que ainda temos muito a percorrer, mas podemos avançar. O aumento do financiamento da saúde pública é imprescindível e, além do mais, a implementação de tecnologias de telemedicina pode desempenhar um bom papel para aumentar o acesso às consultas, em especial para as mulheres do interior, e a criação de parcerias com instituições privadas pode ampliar ainda mais o acesso aos serviços. É preciso que a sociedade e os governantes unam esforços para que todas as mulheres tenham acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado. Apenas assim, poderemos mudar esse cenário e salvar vidas.
*Evelyn Rosa de Oliveira é tecnóloga em Radiologia, mestre em Engenharia Biomédica. Professora da Escola Superior de Saúde Única e tutora do Curso de Tecnologia em Radiologia na UNINTER
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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