Na próxima quarta-feira (7), o Copom – Comitê de Política Monetária decide se aumenta ou não a taxa de juros. Especialistas do mercado financeiro projetam um aumento de meio ponto percentual levando os juros básicos da economia para 14,75% ao ano. Em meio a um cenário de inflação ainda resistente e incertezas fiscais e externas, o movimento foi interpretado como necessário para manter a credibilidade da política monetária e ancorar as expectativas de preços.
“A alta da Selic é uma resposta necessária à inflação ainda persistente e acima da meta. Mesmo com revisões recentes nas projeções, o cenário segue pressionado, e o Banco Central precisa reforçar seu compromisso com a estabilidade de preços”, afirma Fernando Gonçalves, especialista em investimentos e sócio da GT Capital. Segundo ele, o novo patamar de juros muda significativamente o jogo para os investidores, trazendo a renda fixa novamente ao centro das atenções. “Com a Selic elevada, os pós-fixados de curto e médio prazo ganham mais atratividade, oferecendo bom retorno com risco controlado”, pontua.
A avaliação é compartilhada por Jeff Patzlaff, planejador financeiro, que destaca a persistência da inflação como fator-chave na decisão do Copom. “O IPCA acumulado em 12 meses ainda está acima da meta de 3%. Além disso, o risco fiscal segue presente, e o Federal Reserve também dá sinais de manter os juros elevados por mais tempo, o que pressiona o câmbio e pode trazer inflação. Nesse cenário, a elevação da Selic funciona como um sinal claro de vigilância do Banco Central”, explica.
Josias Bento, sócio da GT Capital, também vê na atual conjuntura uma janela de decisão mais confortável para o Banco Central. “O IPCA-15 de abril já indicou uma convergência maior da inflação para o centro da meta. Além disso, há semanas não se fala em política fiscal, o que dá a impressão de estabilidade, embora não signifique que as contas estejam resolvidas”, comenta.
Como fica a renda fixa?
Para os investidores que buscam decisões mais práticas, Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital, sugere foco em pós-fixados no curto prazo. “CDBs atrelados ao CDI, Tesouro Selic e fundos de renda fixa com ativos pós-fixados são mais vantajosos nesse cenário. Eles evitam perdas com marcação a mercado e garantem um retorno previsível. Já para quem pensa no longo prazo, os títulos atrelados ao IPCA podem ser interessantes, desde que mantidos até o vencimento ou em cenários de inflação elevada”, afirma.
Segundo Bergamo, a escolha da aplicação deve considerar tanto o momento econômico quanto o perfil de cada investidor. “Se o objetivo é preservar capital com liquidez, os pós-fixados são a melhor pedida. Mas se o horizonte é mais longo e o investidor quer proteger seu poder de compra, os títulos atrelados à inflação passam a ser estratégicos. É preciso alinhar prazo, objetivo e risco para tomar a melhor decisão”, comenta.
Gustavo Moreira, planejador financeiro, acredita que é válido aproveitar as taxas de juros altos e ficar de olho em investimentos pós-fixados como CDBs: ”É possível encontrar investimentos em bancos e corretoras tradicionais como CDBs que oferecem, em sua maioria, algo em torno de 102% do CDI para aplicações om liquidez diária e cerca de 113% para longo prazo”, diz.
Bolsa de valores
Patzlaff aponta que a alta de juros impacta diretamente a atratividade da Bolsa de Valores, principalmente nos setores mais sensíveis aos juros, como varejo e construção civil. “O custo de oportunidade aumenta, reduzindo o apetite por risco. Isso tende a gerar migração para ativos mais seguros, como os títulos do Tesouro e CDBs pós-fixados”, analisa. Ainda assim, ele vê oportunidades nos prefixados e nos papéis atrelados ao IPCA, desde que com estratégia e horizonte definidos. “Se estivermos próximos do pico do ciclo de alta, pode ser o momento ideal para travar taxas atrativas no longo prazo”, complementa.
Do lado dos bancos e grandes instituições financeiras, o cenário de juros altos impulsiona os lucros e, por consequência, o desempenho de suas ações. Bruno Cotrim, economista da casa de análise Top Gain, lembra que o índice financeiro (IFNC) da Bolsa já sobe quase 26% no ano, com destaque para bancos como BTG Pactual, Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil, que acumulam altas. “Os bancos têm se beneficiado diretamente da Selic alta, tanto pelo aumento da margem financeira quanto pela preferência dos investidores por ativos mais seguros e previsíveis”, afirma.
Mesmo assim, Cotrim destaca que setores ligados a serviços e consumo têm mostrado recuperação. “Educação, supermercados, turismo e academias como a Smart Fit estão entre as altas da Bolsa. Isso mostra que, com o fim próximo do ciclo de alta, setores que foram muito pressionados tendem a reagir, especialmente os de consumo cíclico e parte do varejo”, aponta. Ele acrescenta que a energia elétrica pode ser outro setor a observar no segundo semestre, diante de uma possível transição para a bandeira tarifária amarela, o que elevaria a receita das empresas do setor.
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Guilherme Hanna Adario
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