Em novembro de 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) declarou que, a partir daquele momento, o dia 27 dia de janeiro seria marcado como o dia Internacional em memória às Vítimas do Holocausto.
A data foi escolhida por ser o dia em que o exército vermelho, da então URSS, libertou os poucos sobreviventes do campo nazista de concentação Auschwitz-Birkenau, localizado na Polônia, 60 anos antes da resolução internacional. Este é considerado o maior dos que existiu e, hoje, está aberto ao público como memorial e museu. Antes da Assembleia Geral, alguns países já utilizavam a data com o mesmo propósito.
Quase 20 anos depois da efetivação do dia 27 como data comemorativa, o dia dessa lembrança está envolto de tensões políticas, diplomáticas e sociais, pelo conflito desencadeado em outubro de 2023 entre Israel e Palestina. Além das questões bélicas, a discussão entre os lados passou a ser feita por qualquer pessoa que esteja preocupada e escolha a defesa de um lado.
Porém, parte do debate acerca do conflito começou a ganhar ares de ofensas e preconceitos destilados por todos os lados, afetando, principalmente, as culturas e religiões dos envolvidos. Dentre eles, um dos ataques mais fortes vem com o ressurgimento do antissemitismo, característico dos tempos da Segunda Guerra Mundial, quando Hitler se utilizou de um ódio sem sentido para eleger o grande “vilão” da raça ariana.
Para Nilton Serson, advogado e fundador do Movimento Sonista do Brasil, “Qualquer guerra, em qualquer cenário, é mais complexa do que lado A vs lado B, certo vs errado. Num mundo globalizado, como o que temos hoje, essa questão é ainda mais difícil de ser definida. Uma pessoa na Patagônia pode acordar, tomar seu café, pegar seu celular e ser inundado de informações sem qualquer checagem sobre a guerra que acontece do outro lado do mundo. O grande problema disso é saber quantas dessas informações são verdadeiras. Além disso, a facilidade do anonimato faz com que preconceitos antigos possam voltar com tudo. Para quem procurar, há exemplos de ódio contra o Islã, com dados pífios, e o temoroso antissemitismo”.
Faltando um ano para completar 80 anos desde a queda de Auschwitz, o sentimento de ódio contra toda a cultura judaica retornou, mesmo com os apelos de que críticas podem ser feitas ao Estado de Israel, mas não contra toda uma crença, que vai além da religião e não é delimitada a uma nação. Vale lembrar que, assim como existem árabes israelenses, existem judeus palestinos, assim como é possível encontrar judeus em quase todos os lugares do mundo.
Poucos dias antes da chegada da data comemorativa de janeiro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), conhecido como Tribunal de Haia, começou a se debruçar sobre as denúncias de crimes cometidos por Israel, feitas pela África do Sul e ratificadas por outras nações, como o Brasil.
Neste primeiro momento, a corte não se pronunciou sobre a principal acusação, de genocídio, mas exigiu algumas medidas para que os palestinos possam ter seus direitos reservados e respeitados por todo o mundo.
Entretanto, os ataques desmedidos a ambos os lados continuam e as lembranças dos atos de Hitler são repetidas de tempos em tempos, mostrando que o extremismo presente nas redes sociais tem ganhado voz.
“Assim como os palestinos e os árabes como um todo merecem respeito e cuidado, os israelenses e, principalmente, os judeus não podem sofrer com esse tipo de ataque que retoma as mais vis lembranças, de uma época que a humanidade gostaria de esquecer, mas não deve, para que não haja a possibilidade de repetir os mesmos erros e atrocidades de quase 100 anos atrás. Esse é um passado muito doloroso, mas que deveria servir de aviso para o que o homem já fez e é capaz”, complementa Serson.
Para o advogado, não importa qual lado é defendido por uma pessoa, se ela ultrapassar a barreira da crítica e partir para a ofensa, como vem ocorrendo contra os judeus, ela deveria perder qualquer direito de dar uma opinião respeitável sobre o conflito.
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