Assim como as ondas de calor que atingem o país com intensidade crescente, a inflação também tem se mostrado um fenômeno persistente e preocupante. As temperaturas elevadas são um reflexo das mudanças climáticas globais e da urbanização. Já a inflação, que fechou 2024 em 4,83%, percentual acima da meta estipulada, é influenciada por fatores econômicos como a demanda agregada, os custos de produção e as políticas monetárias, percebidos nas variações na taxa de juros e na taxa de câmbio. Ambos os fenômenos mostram um padrão de aumento na frequência e intensidade, exigindo medidas de mitigação e adaptação.
Os dados mais recentes indicam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) subiu 1,23% em fevereiro de 2025, após ter avançado 0,11% em janeiro. Essa foi a maior alta para o mês desde 2016. A inflação acumulada em 12 meses aumentou de 4,2% em agosto para 4,9% em novembro de 2024. Em janeiro de 2025, a taxa de inflação anual foi de 4,56%, uma leve redução em relação aos 4,83% do mês anterior. Mas os efeitos são cumulativos, cada novo ajuste se sobrepõe ao preço já elevado.
As altas temperaturas têm efeitos diretos na saúde pública, aumentando os casos de problemas cardíacos. De maneira semelhante, a inflação corrói o poder de compra das famílias brasileiras, especialmente as de menor renda, que veem seus orçamentos apertados pelos aumentos nos preços dos itens essenciais. Os alimentos passam a ser a principal despesa, reduzindo ou inibindo outros tipos de gastos. Por exemplo, a inflação de 7,62% no grupo de alimentos e bebidas em 2024 pressionou ainda mais o orçamento das famílias, reduzindo a capacidade de consumo, poupança e investimento.
O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou recentemente que a queda do dólar e a safra de 2025 ajudarão a controlar os preços dos alimentos. Ele destacou que o dólar, que estava em R$ 6,10, caiu para R$ 5,80, o que, junto com uma safra forte, contribuirá para a redução dos custos alimentares. Mas existem muitas variáveis nesse cenário para assegurar a confirmação de um desfecho mais promissor.
Estudos recentes mostram que as ondas de calor impactam a produção agrícola, causando perdas de safras e aumento dos custos. A seca prolongada afeta grãos e alimentos básicos, elevando os preços. O consumo de energia para refrigeração durante o calor também pressiona os custos de produção, contribuindo para a inflação.
Para mitigar esses impactos, é essencial adotar medidas de longo prazo, como investimentos em infraestrutura para aumentar a resiliência agrícola e no sistema de distribuição de alimentos, além de políticas públicas para promover a sustentabilidade e reduzir emissões de gases de efeito estufa. Fortalecer programas de assistência social é crucial para proteger as famílias de baixa renda da inflação.
A inflação e as ondas de calor afetam mais que a economia, agravando a desigualdade social e a insegurança alimentar, além de prejudicar a saúde mental e o bem-estar. Abordar esses problemas de forma integrada é fundamental. Ações coletivas e organizadas são necessárias, mesmo que impliquem custos adicionais. Estratégias como pesquisa de preços, substituição de produtos e racionalização dos estoques ajudam a minimizar os impactos imediatos e garantir estabilidade para as famílias brasileiras.
*Marcos José Valle e doutor em sociologia e professor de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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