O mês de março é marcado pela campanha internacional Março Borgonha, criada em 2009 pela International Myeloma Foundation (IMF). A iniciativa tem como propósito ampliar o conhecimento sobre o mieloma múltiplo, uma neoplasia hematológica ainda pouco conhecida, mas que impacta significativamente a vida de milhares de pessoas em todo o mundo.
A cor borgonha, escolhida como símbolo da campanha, remete ao sangue e à medula óssea – estruturas diretamente envolvidas na origem da doença. Mais do que uma cor, ela representa a luta diária de pacientes, familiares e profissionais da saúde na busca por diagnóstico precoce, tratamento adequado e acolhimento ao longo da jornada.
O que é o mieloma múltiplo?
O mieloma múltiplo (MM) é um tipo de câncer que se desenvolve a partir dos plasmócitos, células presentes na medula óssea que têm como função principal a produção de anticorpos. No mieloma, essas células passam a se multiplicar de forma desordenada, produzindo anticorpos defeituosos (proteínas monoclonais) e comprometendo a produção das demais células do sangue.
Essas alterações afetam a imunidade, a saúde óssea e a função renal, além de aumentar o risco de infecções, fraturas e outras complicações.
Embora considerado um câncer raro, o mieloma representa cerca de 10% das neoplasias hematológicas e 1% de todos os cânceres. A maioria dos casos ocorre em pessoas com mais de 60 anos, mas a doença também pode acometer adultos mais jovens.
Sinais de alerta
Os sintomas do mieloma múltiplo costumam ser inespecíficos e se desenvolver de forma gradual, o que pode atrasar o diagnóstico. Entre os principais sinais de alerta, destacam-se:
. Dor óssea persistente, principalmente na coluna lombar, costelas ou quadris;
. Fraturas espontâneas ou após traumas leves;
. Fadiga intensa, geralmente causada por anemia;
. Infecções frequentes ou de difícil resolução;
. Alterações urinárias e disfunção renal;
. Perda de peso, apetite e massa muscular.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do mieloma múltiplo exige uma abordagem integrada, com exames laboratoriais, de imagem e análise da medula óssea. Entre os principais exames estão:
. Hemograma completo;
. Eletroforese de proteínas séricas e urinárias;
. Imunofixação de proteínas séricas e urinárias;
. Dosagem de cadeias leves livres;
. Cálcio e creatinina séricas;
. Exames de imagem: radiografia, tomografia, ressonância magnética ou PET-CT;
. Biópsia da medula óssea, essencial para confirmar a presença e o percentual de plasmócitos anormais;
. Estudo genético e molecular, para definir o risco e guiar o tratamento.
Fatores de risco
Diversos fatores podem aumentar o risco de desenvolver mieloma múltiplo, como:
. Idade superior a 60 anos;
. Histórico familiar da doença;
. Exposição crônica a produtos químicos (pesticidas, solventes, amianto) ou radiação;
. Condições precursoras, como MGUS (gamopatia monoclonal de significado indeterminado) e plasmocitoma solitário.
Não há formas comprovadas de prevenção, mas hábitos de vida saudáveis – alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, não fumar e evitar consumo excessivo de álcool – contribuem para o bem-estar geral e favorecem a detecção precoce.
Tratamento: avanços que transformam o prognóstico
O tratamento do mieloma múltiplo passou por grandes avanços nas últimas décadas. Hoje, a doença é tratada como uma condição crônica, com períodos de controle prolongado e boa qualidade de vida para a maioria dos pacientes.
A escolha do tratamento depende de diversos fatores, incluindo idade, estado geral, presença de comorbidades e risco da doença. Entre as abordagens mais atuais estão:
Esquemas combinados (triplets e quadruplets)
O tratamento é realizado com combinações de medicamentos, que incluem:
. Imunomoduladores, como lenalidomida ou talidomida;
. Inibidores de proteassoma, como bortezomibe ou carfilzomibe;
. Corticosteroides, como a dexametasona;
. Anticorpos monoclonais como daratumumabe e isatuximabe.
A combinação de medicamentos com diferentes mecanismos de ação é a base do tratamento inicial. Recentemente, o estudo PERSEUS demonstrou que o esquema com quatro drogas – daratumumabe, bortezomibe, lenalidomida e dexametasona (D-VRd) – traz benefícios significativos para pacientes elegíveis ao transplante, com maiores taxas de resposta completa, remissão profunda e menor progressão da doença. Essa combinação já está aprovada por agências regulatórias internacionais e consolida-se como novo padrão terapêutico.
Transplante autólogo de medula óssea
“É indicado para pacientes com bom estado clínico, geralmente até 70 anos. O transplante aumenta a profundidade da resposta e contribui para o controle prolongado da doença”, ressalta Dra. Caroline Bernardi.
Anticorpos biespecíficos: uma nova fronteira
Recentemente aprovados no Brasil, os anticorpos biespecíficos representam uma inovação promissora. Eles se ligam simultaneamente às células do mieloma e aos linfócitos T do paciente, promovendo a destruição tumoral direcionada. Drogas como teclistamabe, talquetamabe e elranatamabe têm demonstrado taxas de resposta elevadas em pacientes com mieloma múltiplo resistente a múltiplas linhas de tratamento.
Terapia com células CAR-T
Os linfócitos T geneticamente modificados (CAR-T cells) são reprogramados para reconhecer e atacar as células do mieloma. Essa modalidade é indicada para pacientes com doença avançada ou refratária, com resultados impressionantes em estudos internacionais.
Radioterapia
A radioterapia pode ser usada de forma pontual para aliviar dores ósseas ou controlar lesões específicas. A onco-hematologista do COP também destaca a importância do acompanhamento com suporte nutricional, controle da dor, prevenção de infecções e monitoramento da função renal e óssea.
Avanços terapêuticos trazem mais qualidade de vida
A jornada com mieloma múltiplo envolve desafios, mas também possibilidades reais de controle e qualidade de vida, com sobrevidas livres de doença chegando a mais de 12 anos, graças aos avanços terapêuticos e ao cuidado especializado. Com esses progressos, já é possível falar em cura para alguns casos de mieloma múltiplo. Em um cenário de rápida evolução científica, o acesso à informação confiável e ao tratamento adequado é fundamental.
O COP – Centro de Oncologia do Paraná tem o compromisso de oferecer ao paciente um cuidado humanizado, personalizado e baseado nas melhores evidências disponíveis. “Trabalhamos lado a lado com nossos pacientes, promovendo saúde, acolhimento e esperança. Se você apresenta sintomas persistentes ou tem histórico familiar de doenças hematológicas, converse com um hematologista, afinal, diagnóstico precoce salva vidas”, completa a onco-hematologista Dra. Caroline Bernardi.
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Heverson Bayer
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