Há mais de dois anos, quando o governo brasileiro autorizou o visto temporário e a residência para imigrantes afegãos por razões humanitárias, em setembro de 2021, o Brasil tem sido o destino de milhares de refugiados que fogem do grupo radical Talibã, que assumiu o poder do Afeganistão naquele mesmo ano. Chegando ao aeroporto de Guarulhos (GRU), os refugiados ficavam acampados no mezanino do Terminal 2, ao lado do Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante. Em ocasião rara, na última semana, nenhum afegão estava acampado no GRU à espera de abrigo, momento comemorado por ONGs que atuam no acolhimento dos imigrantes.
Desde setembro do último ano, os abrigos passaram a ser ainda mais decisivos para a vinda dos afegãos que tentam sair do país asiático, uma vez que o Governo Brasiliero publicou uma nova Portaria Interministerial para atualizar as regras da concessão dos vistos temporários para os refugiados. Pela nova determinação, os vistos seriam concedidos mediante a existência de capacidade de abrigamento por organização da sociedade civil com a qual a União tenha celebrado acordo de cooperação.
Para Ana Paula Pinhati Oliveira, vice-presidente da Organização de Resgate de Refugiados Afegãos (ARRO) e membro do Coletivo Frente Afegã e da ONG Planeta de TODOS, o terceiro setor tem sido ator fundamental no auxílio aos refugiados. “Muitas vezes, percebemos a dificuldade do governo em assumir este acolhimento por completo como responsabilidade e quem acaba cobrindo esse buraco é a própria sociedade civil”, afirma.
Embora o cenário seja favorável, sem afegãos aguardando abrigo no aeroporto, a voluntária ressalta que a situação pode mudar, à medida que novos voos podem chegar trazendo mais imigrantes. “A última informação que temos é de que o aeroporto está zerado. Estamos felizes por finalmente esse número ter reduzido de novo, mas não sabemos se voltará a subir, e isso é algo que acontece raramente. Nos últimos 18 meses, por exemplo, o aeroporto só ficou zerado três vezes, em fevereiro e julho de 2023 e agora”, destaca.
Como membro da ARRO, Ana Paula acompanha de perto a situação dos imigrantes afegãos desde novembro de 2022. Entre tantas histórias que cruzam os portões de desembarque do aeroporto em busca de uma nova oportunidade de vida, ela destaca que o reencontro de pessoas da mesma família é sempre um momento marcante.
“Vemos famílias afegãs que conseguiram se reunir novamente aqui no Brasil, os familiares foram chegando aos poucos e eles puderam estar juntos como não conseguiam já há algum tempo. Ao conseguirem abrigo, essas pessoas se estabeleceram, deixaram para trás um período muito complicado em que o aeroporto estava com 300 pessoas aguardando acolhimento. Todos eles estão aqui agora no Brasil, aprendendo a língua, se estabilizando”, conta.
Superado momentaneamente o desafio do encontro de vagas em abrigos, Ana ressalta que “é fundamental que os imigrantes possam realmente passar por um processo de integração completa no país para conseguirem recomeçar a vida por aqui”. Para diminuir o abismo cultural entre Brasil e Afeganistão, espaços de acolhimentos têm oferecido, mais do que moradia temporária, aulas de portugês e capacitação para reintegração sociolaboral, como é o caso da ONG Planeta de TODOS, no interior de São Paulo.
Frase escrita por refugiado afegão em sua mão durante aula de português no Planeta de TODOS
Do Afeganistão para Ribeirão Preto
Sete afegãos encontraram na cidade de Ribeirão Preto – SP, o abrigo que tanto esperaram. No começo de março, os refugiados foram acolhidos pela ONG Planeta de TODOS, que abriu sua primeira unidade no Brasil para prestar auxílio aos imigrantes. Com atuação na Colômbia, Grécia e Itália, a ONG deu início às suas atividades no Brasil com o objetivo de, além de fornecer moradia temporária, colaborar para a integração cultural e laboral dos afegãos, por meio de aulas de português e inglês e recolocação no mercado de trabalho nas empresas do Grupo TODOS Empreendimentos, franqueador do Cartão de TODOS e mantenedor do projeto.
Cerca de 12 mil vistos humanitários foram emitidos pelo Itamaraty, mas apenas 700 refugiados afegãos no Brasil estão empregados no mercado formal atualmente, segundo o Ministério do Trabalho. Para André Naddeo, diretor-executivo da ONG, a missão do Planeta de TODOS está além do oferecimento de abrigo temporário.
“Quando pensamos que essas pessoas deixaram para trás toda a vida que construíram, fica evidente a importância de que consigam se restabelecer por aqui. Nos preocupamos em conseguir proporcionar a integração dos imigrantes à comunidade brasileira e, por isso, vamos prepará-los para que aprendam a língua portuguesa, o inglês e possam estar trabalhando daqui cerca de 12 meses, conquistando sua independência”, explica Naddeo.
Mohammed Yahya é um dos afegãos acolhidos pela ONG. O jovem de 20 anos conta que está há um ano sem ver os pais, quando fugiu para o Irã para que, depois, pudesse recorrer ao Brasil. “Sinto a falta deles, mas supero isso por um desejo maior: sobreviver. Quero aprender português, começar a trabalhar e trazê-los para cá, dar uma vida melhor para eles”, afirma Yahya.
Desde a retomada do Talibã no Afeganistão, segundo Naddeo “todo afegão que trabalhou para o governo ou para qualquer organismo estrangeiro dos Estados Unidos, das forças estrangeiras que atuaram por 20 anos no Afeganistão, é considerado pelo Talibã como um traidor ou traidora, o que coloca a vida dessa pessoa em perigo, por isso a importância do acolhimento humanitário”.
Sobre o Planeta de TODOS
A ONG brasileira Planeta de TODOS foi fundada em 2016 e é mantida pelas Unidades de Negócio que compõem o Grupo TODOS Empreendimentos — Cartão de TODOS, AmorSaúde, MaisTODOS e Refuturiza. Nesses oito anos, atuou nas maiores crises migratórias do mundo, na Itália e Grécia, atendendo a jovens imigrantes vindos principalmente do Oriente Médio e África. Esteve presente na Ucrânia durante a invasão russa, e em Roraima, na fronteira com a Venezuela. Em Bogotá, na Colômbia, mantém a Casa Feliz, exclusiva para o atendimento a pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. O novo espaço em Ribeirão Preto é o primeiro no Brasil. O modelo de trabalho do Planeta de TODOS é inédito no mundo e está disponível em formato copyleft no site: https://planetadetodos.com.br/ .
Sobre o Cartão de TODOS
O Cartão de TODOS é referência no mercado de cartões de descontos. Criado em 2001 por Altair Vilar, em Ipatinga (MG), a empresa oferece a intermediação de descontos entre os usuários do cartão e as empresas parceiras. A adesão ao Cartão de TODOS dá direito a descontos nas mais de 400 clínicas médico-odontológicas parceiras, permitindo o acesso da população à saúde primária de qualidade, além de oferecer descontos em atividades que englobam serviços voltados à educação e ao lazer e, ainda, a itens essenciais. A empresa atende, hoje, o equivalente a mais de 18 milhões de pessoas, e possui uma rede com mais de 12 mil estabelecimentos parceiros em todo o Brasil.