A piscicultura brasileira vive um momento de ascensão, impulsionada pelo aumento do consumo interno e pelas oportunidades de exportação. Com um dos maiores potenciais aquícolas do mundo, o Brasil reúne condições favoráveis para se consolidar como líder na produção e exportação de peixes de cultivo. No entanto, desafios como infraestrutura, logística e barreiras sanitárias ainda limitam a expansão do setor no mercado global.
De acordo com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), a produção nacional atingiu 860 mil toneladas de peixes cultivados em 2023, um crescimento de 3,6% em relação ao ano anterior. O tambaqui, o pintado e o pirarucu, espécies nativas e altamente valorizadas, têm ganhado destaque tanto no mercado interno quanto no exterior. O Brasil já exporta parte dessa produção, mas o volume ainda está distante do potencial real.
José Miguel Saud, especialista em piscicultura e criador de tambaquis, pintados e pirarucus, ressalta que um dos principais desafios da internacionalização é a adaptação aos padrões sanitários exigidos por mercados como Estados Unidos, Europa e Ásia. “O Brasil tem um produto de excelente qualidade, mas ainda enfrenta dificuldades para atender aos protocolos exigidos por grandes importadores. Precisamos investir mais em certificações e rastreabilidade para garantir que nosso peixe seja aceito sem restrições no exterior”, explica.
A infraestrutura logística também é um entrave. A piscicultura depende de uma cadeia de frio eficiente para manter a qualidade dos peixes até o destino final. Saud aponta que a falta de estrutura adequada para armazenamento e transporte impacta diretamente a competitividade dos produtores brasileiros. “Hoje, exportamos principalmente filés congelados e peixes processados, mas há uma demanda crescente por peixe fresco. Para atender a esse mercado, é fundamental melhorar os sistemas de transporte e distribuição”, afirma.
Mesmo diante dos desafios, as oportunidades para a piscicultura brasileira no cenário global são promissoras. O mercado de pescado tem crescido consistentemente, impulsionado pela busca por proteínas mais saudáveis e sustentáveis. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o consumo global de peixe deve aumentar 15% até 2030, tornando a aquicultura uma das principais fontes de proteína animal no mundo.
“O tambaqui, por exemplo, tem características nutricionais muito valorizadas no mercado internacional, como alta concentração de ômega-3 e sabor diferenciado. Já o pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do mundo e tem um grande apelo gastronômico, principalmente na culinária asiática. Se conseguirmos estruturar bem nossa cadeia produtiva, podemos transformar essas espécies em produtos de exportação altamente rentáveis”, analisa José Miguel Saud.
Nos últimos anos, iniciativas para fomentar a exportação de peixes brasileiros têm avançado. O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) tem firmado acordos para facilitar a entrada do pescado brasileiro em novos mercados, enquanto associações do setor promovem ações para aumentar a visibilidade dos produtos nacionais. Além disso, programas de financiamento específicos para piscicultores têm incentivado a modernização da produção.
Para que o Brasil alcance uma posição de destaque na piscicultura global, especialistas defendem um planejamento estratégico que envolva inovação, qualificação técnica e políticas públicas eficientes. “O Brasil tem tudo para ser um grande exportador de pescado, mas precisa investir mais em pesquisa, capacitação de produtores e infraestrutura. É um trabalho conjunto entre governo, setor privado e instituições de fomento. Se seguirmos esse caminho, podemos nos tornar referência mundial na criação de peixes nativos”, conclui o piscicultor José Miguel Saud.
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Andreia Souza Pereira
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