Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Geológico, órgão extinto pelo Governo paulista em 2020, e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) projeta um aumento de até 6ºC na temperatura em parte do Estado até 2050. Segundo o documento, divulgado hoje (25), pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), os cientistas consideraram dois cenários, com projeções elaboradas a partir de quatro modelos climáticos e nove variáveis de temperatura do ar e chuva para calcular o desvio, que será a diferença de temperatura do ar e da chuva em relação à média histórica. A projeção para o período entre 2020 e 2050 se baseia em um comparativo com dados coletados entre 1961 a 1990, levando em consideração os maiores e os menores valores dos desvios.
A conclusão é de que haverá “aquecimento da atmosfera, que tende a ser menos intenso na fachada litorânea, devido ao controle exercido pelo oceano, e maior no trecho noroeste do estado, mais distante do Atlântico”, resumem os autores do estudo.
Quando consideraram a temperatura máxima anual, os pesquisadores identificaram que haverá aumento em todo Estado, com menor aquecimento, entre 0,5 e 1,5ºC, no litoral norte e Baixada Santista. Em outras regiões, as máximas podem avançar a partir de 3ºC a 4ºC, podendo chegar aos 6ºC na faixa central do Estado.
Em um dos cenários, “o Estado praticamente inteiro apresenta redução de ondas de frio entre 1 e 3 dias, com pequenos trechos isolados onde essa redução é de até um dia”, relatam.
Já as ondas de calor, podem ser ainda mais extensas, superando 150 dias no norte paulista, região de Ribeirão Preto, em um cenário mais pessimista, e 25 dias no sul do Estado.
“Este estudo foi encomendado pelo próprio Estado, e é um documento importantíssimo para lembrar que a emergência climática é real e pode trazer consequências devastadoras para o planeta, e também para o Estado mais rico do Brasil, que pode ter sua economia fortemente atingida se as projeções se confirmarem”, comenta Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC. “Apesar dos dados, o Estado não parece estar atento ao que a ciência alerta, porque tem adotado, nos últimos anos, medidas que fragilizam o sistema paulista de ciência e tecnologia, como a extinção do próprio Instituto Geológico, autor do estudo, do Instituto Florestal e do Instituto de Botânica, além da Sucen, que também poderia contribuir diante deste cenário estudando a mudança de comportamento de vírus e de vetores”.
Chuvas
O estudo também observou chances de eventos extremos, alternando entre clima seco e chuva forte, podendo causar escorregamentos de encostas, inundações e erosões. Este cenário aparece, principalmente, no litoral sul e norte.
O documento, que levou cerca de quatro anos para ficar pronto, também menciona que as conclusões foram incorporadas ao Zoneamento Ecológico-econômico (ZEE) do Estado de São Paulo, e que novos estudos estão em andamento para aprimorar os resultados.
Em um dos modelos, é possível apontar chance de uma redução na precipitação anual, com destaque para as regiões de Ribeirão Preto (norte) e São José do Rio Preto (noroeste).
“Entre as diferentes tendências, a redução na precipitação é o pior cenário a ser enfrentado, dado o caráter essencial à vida que a água se reveste”, pontua o documento, chamando a atenção também para o risco de maiores precipitações, que podem deflagrar desastres.
Ao longo de décadas, a exploração econômica em São Paulo, assim como no Brasil, segundo a publicação, ocorreu “em detrimento das condições geoecológicas”.
“Dos estados brasileiros, São Paulo é aquele com maior grau de ocupação de seu território, maior contingente populacional e maior desenvolvimento econômico, diretamente associado ao desempenho de sua agricultura, indústria e serviços. Justamente por esses motivos é o trecho do território brasileiro com o maior grau de modificação dos espaços naturais”, afirma outro trecho do estudo, que aponta apenas 22,9% da vegetação florestal nativa estão preservadas.
“O estado de São Paulo só não está em uma condição ainda mais grave porque ao longo do último século, pesquisadores dos Institutos, como o Florestal, também extinto em 2020 pelo Governo João Doria, atuaram para mapear e proteger os biomas nativos”, afirma Lutgens.
A APqC cobra do Estado um plano de ação para conter o avanço do aquecimento em São Paulo, medidas efetivas para preservar as áreas de conservação e a recriação dos Institutos Geológico, Florestal e Botânica, além da Sucen.
“É urgente fortalecer o sistema paulista de pesquisa e tecnologia, e isso exige investimentos financeiros e em recursos humanos. Enquanto isso, hoje, ignorando os alertas da ciência, o governo Tarcísio de Freitas tenta entregar as áreas de conservação para a iniciativa privada, uma afronta ao futuro dos paulistas”, critica Lutgens.
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MARCELO AUGUSTO NADALON
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