Ainda pouco conhecida pelos brasileiros, a medicina nuclear tem se tornado mais uma opção na prevenção e no tratamento do câncer de próstata. A especialidade oferece exames e tratamentos inovadores por meio de substâncias radioativas, conhecidas por radiofármacos. O diretor de ética e defesa profissional da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Dalton Anjos, explica que os exames são feitos através de PET scan e cintilografia óssea com a injeção de uma substância radioativa na veia do paciente que permite fazer uma avaliação do funcionamento dos órgãos e sistemas.
“Depois que essa substância radioativa é injetada na veia, ela se distribui pelo corpo através da corrente sanguínea e essa partícula radioativa se liga nos lugares onde o câncer de próstata está. Com isso a gente consegue fazer uma varredura do corpo inteiro e saber se o câncer de próstata se espalhou pelo corpo, se produziu metástases ou se ele estava apenas localizado ali na próstata ou na pelve”, destaca.
O médico acredita que essa técnica pode trazer melhores resultados e mais qualidade de vida para o paciente.
“A cura é muito difícil quando o câncer já está espalhado, quando ele é metastático. Mas o que a gente consegue é controlar a doença ou muitas vezes fazer com que ela reduza a ponto dela não ter mais nenhum sinal, tanto nos exames de imagem quanto nos exames bioquímicos”, relata.
Dalton Anjos ainda acrescenta que a vantagem da medicina nuclear é no sentido de conseguir respostas mais eficazes enquanto outros tratamentos, principalmente os que se baseiam no bloqueio hormonal, não funcionam.
“Acontece em pacientes que fazem o tratamento com o PCM e o TESIO e o PSA, que é o principal exame de sangue, que é o marcador bioquímico do câncer de próstata, ficar zerado, indetectável e os exames de imagem normalizarem”, relata.
Exames de rastreamento
Normalmente, o diagnóstico é feito a partir de uma biópsia. Segundo a médica oncologista clínica e membro do Comitê de Tumores Geniturinários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Mariane Sousa Fontes Dias, o rastreamento é o trabalho feito para identificar doenças a partir de uma condição onde o paciente encontra-se assintomático.
“Hoje o rastreamento por câncer de próstata é feito a partir da dosagem do PSA e do toque retal, que são complementares, eles não são estratégias que são substituíveis, um não vai substituir o outro. E a partir desse indício, que você pode ter uma alteração sugestiva de câncer, como a identificação de um nó, de um aumento de PSA muito rápido, você pede uma ressonância magnética da próstata que identifica esses nódulos e pode auxiliar nesse diagnóstico”, revela.
Para a especialista é importante o paciente realizar todos os exames possíveis para conseguir diagnosticar o tipo de câncer, a agressividade e saber se é um câncer mais indolente ou não para nortear todo o tratamento.
Na opinião do médico urologista, especialista em Urologia Oncológica do Centro de Oncologia do Paraná – Curitiba (COP), Antônio Brunetto Neto, o diagnóstico precoce ainda é a melhor maneira de encontrar resultados positivos para o tratamento. “Quanto mais precoce a sua detecção, quanto mais inicial o estágio do tumor, maior a chance de cura e menor o número de terapias que a gente vai precisar associar”.
Exame através da medicina nuclear
De acordo com o diretor de ética e defesa profissional da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Dalton Anjos, a medicina nuclear encontrou novas práticas clínicas para diminuir o risco de morte de pessoas com o diagnóstico.
“A cintilografia óssea é um exame de fácil acesso para a população brasileira. A gente tem medicina nuclear nos grandes centros, nas regiões metropolitanas de praticamente todo o Brasil, de norte a sul. São mais de 400 serviços de medicina nuclear, que oferecem esse tipo de exame que seria o básico na medicina nuclear. Ele inclusive está disponível no SUS”, salienta.
Já o exame de PET/CT com PSMA, o médico diz que é um exame mais sofisticado, mais novo, que ainda não está na tabela do SUS e também não está no rol de procedimentos da ANS, ou seja, os pacientes de planos de saúde também não têm acesso com cobertura pelo plano.
“É um exame que geralmente é feito somente em particular, é um exame caro, mas é um exame mais sensível e específico para câncer de próstata”, avalia.
Novembro azul
Na opinião do médico Dalton Anjos, o Novembro Azul é a oportunidade de reforçar cada vez mais a necessidade de cuidar da saúde e fazer todos os exames de próstata recomendados.
“É importante justamente para isso, para que pelo menos uma vez por ano os homens sejam conscientizados que precisam fazer esses exames de prevenção e que esses exames são importantíssimos para fazer o diagnóstico precoce do câncer de próstata — e com isso aumentar as chances de cura”, analisa.
É com esse pensamento que o funcionário público Carmelo Souto Tormim (64), morador de Sobradinho, procura sempre se cuidar.
“O câncer de próstata é silencioso e todo ano eu faço, inclusive já fiz biópsia de próstata também. Então acho importante isso porque todo ano a gente procura o urologista, como a gente vai em outros médicos, acho que o urologista também é muito importante. A gente procurar todo ano para fazer o acompanhamento da próstata”, conta.
Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que a estimativa é que, até 2025, apareçam 71.730 novos casos por ano. A doença é a segunda causa de morte por câncer no público masculino, atrás apenas dos tumores de pele não-melanoma. Só no estado de São Paulo a estimativa é de 16.830 novos casos de câncer de próstata, dos quais 5.630 estão previstos apenas na capital. Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros estados, como Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul e Paraná, também apresentam estimativas significativas, refletindo a relevância da doença no cenário nacional.
O mês de novembro é dedicado à conscientização e prevenção do câncer de próstata. Segundo o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece informação e atendimento com equipes multiprofissionais aptas a realizarem diagnóstico e acompanhamento. Além de exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos e radiológicos, procedimentos cirúrgicos e tratamento em hospitais habilitados em oncologia.