Dona do título de “grão mais plantado no Brasil” desde a década de 1990, a soja acaba de completar 100 anos em território nacional, período em que superou desafios como o clima, os níveis de fertilidade do solo e a concorrência com outras culturas agrícolas, como o trigo. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nos últimos vinte anos, a produção sojícola tem crescido a uma taxa média de 13% ao ano, gerando mais de US$ 45 bilhões de dólares anuais aos cofres brasileiros. Mesmo com os avanços contínuos, esses resultados não são alcançados sem obstáculos. Fatores de estresse bióticos e abióticos causam perdas de US$ 1 bi de dólares por safra, afetando lavouras Brasil afora em diferentes proporções, especialmente quando incidem sobre as plantas em suas fases iniciais de desenvolvimento.
Para evitar perdas bilionárias no cultivo do grão que mais gera lucro para os produtores brasileiros, o agronegócio conta com soluções desenvolvidas pela ciência nacional, como o priming (“preparação” em tradução literal) de sementes — técnica utilizada para melhorar a qualidade e o desempenho das sementes durante a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas. Para o priming da soja, as sementes são expostas a formulações como óxido nítrico (NO), molécula sinalizadora em células vegetais, que influencia processos como germinação, formação de raízes e resposta a estresses. Apesar do potencial da substância, sua aplicação enfrenta desafios devido à sua instabilidade e rápida degradação, exigindo o uso de técnicas específicas e dispositivos nanotecnológicos.
De acordo com a Dra. Ana Cristina Preisler, em sua tese de doutorado sob a orientação do Dr. Halley Caixeta de Oliveira, professor da Universidade Estadual de Londrina e vice-coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável, os nanocarreadores poliméricos estão entre os dispositivos de maior eficácia na aplicação de óxido nítrico, promovendo liberação sustentada por meio de nanopartículas como as de quitosana, biopolímero natural, biodegradável e acessível, que tem sido visto como uma das principais alternativas para a realização de um priming eficiente da soja.
A agrônoma Ana Luísa de Oliveira concorda. Em sua pesquisa, que também contou com a orientação do Dr. Halley, Ana Luísa realizou medições referentes à porcentagem de germinação, ao comprimento de parte aérea e da raiz principal, ao número de raízes secundárias e à massa de diferentes partes da planta, identificando que o priming com nanopartículas de quitosana promove benefícios morfológicos para as plântulas de soja, permitindo um melhor estabelecimento inicial e uma consequente maior produtividade nas lavouras.
O Dr. Halley explica que a quitosana é derivada da quitina, um dos componentes estruturais do exoesqueleto de crustáceos (como camarões, caranguejos e lagostas) e insetos, além de estar presente na parede celular de fungos, o que permite sua extração a baixo custo e fazendo uso resíduos de pesca, por exemplo.
“O que a pesquisa recente tem nos mostrado é que não se trata apenas de manter a produtividade, mas de ampliá-la de forma sustentável. E isso se dá otimizando os recursos já disponíveis, como resíduos da indústria pesqueira, que são transformados em inovação de alto valor agregado. Assim, conectamos o conhecimento científico ao dia a dia do produtor rural, oferecendo soluções economicamente viáveis e ecologicamente responsáveis. Esse é o futuro da agricultura: ciência e tecnologia trabalhando juntas para maximizar resultados, minimizar perdas e garantir que o Brasil continue liderando na produção do grão que alimenta o mundo”, complementa.
Para conferir os resultados das pesquisas sobre quitosana e outras soluções baseadas em nanotecnologia, basta acessar o site do INCT NanoAgro em:https://inctnanoagro.com.br/.
Mais sobre o INCT NanoAgro
Criado com o objetivo de qualificar e congregar recursos humanos de alto nível de diferentes áreas para promover avanços na fronteira do conhecimento em nanotecnologia para Agricultura Sustentável, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro) faz uso de componentes da biodiversidade brasileira e de suas interações ecológicas para desenvolver sistemas integrados para o controle de pragas e doenças, nutrição e estímulo de crescimento vegetal, de forma a aumentar a produtividade agrícola sem desconsiderar a segurança ambiental e da saúde humana, criando um protagonismo do país no cenário mundial. Para saber mais sobre o Instituto, acesse: https://inctnanoagro.com.br/.
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LUIZ GUSTAVO DE ALMEIDA
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