O diagnóstico precoce é o maior aliado no tratamento e cura de diversas doenças e, muitas vezes, faz a diferença entre a vida e a morte. O mesmo acontece em relação às doenças oculares. Desde o nascimento até as consultas de rotina, que devem começar aos seis meses de vida, o check-up dos olhos detecta alterações oftalmológicas com variados níveis de gravidade antes mesmo do aparecimento dos sintomas.
Antes de ter alta da maternidade, todos os recém-nascidos devem passar pelo teste do reflexo vermelho (TRV), conhecido popularmente como teste do olhinho, um exame simples, rápido e indolor, previsto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e coberto pelo rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). É realizado com um dispositivo chamado oftalmoscópio direto, o qual emite uma luz que atravessa as estruturas transparentes do olho, atinge a retina, que fica na parte posterior do órgão, e se reflete.
Em condições normais, o reflexo observado na pupila é vermelho e se parece com o efeito do flash de máquinas fotográficas nos olhos. Caso o reflexo seja branco e opaco, o neonato deve ser encaminhado para avaliação oftalmológica especializada para a realização de exames diagnósticos como fundo de olho, ultrassonografia e ressonância magnética. “Esse resultado indica perda da transparência dos meios oculares – retina, cristalino, córnea ou vítreo, que pode ser causada por uma série de doenças. Entre elas, estão a catarata congênita, glaucoma congênito, toxoplasmose, descolamento de retina e retinoblastoma”, explica Dr. Ivan Corso Teixeira, diretor-técnico do H.Olhos – Hospital de Olhos, referência em oftalmologia no estado de São Paulo e reconhecido no mercado há mais de 40 anos.
Teixeira esclarece que a constatação, pelo teste do reflexo vermelho, de que as estruturas dos olhos estão normais não dispensa o bebê das consultas oftalmológicas de rotina, que devem ter início entre seis meses e um ano de idade. “A avaliação do oftalmologista desde cedo possibilita o diagnóstico precoce de outras doenças, além daquelas cujos sinais são observados pelo TRV no período neonatal. É o caso de problemas que surgem mais tarde, como a retinose pigmentar, doença degenerativa que pode se desenvolver na infância. O oftalmologista consegue detectar alterações na retina antes do aparecimento dos sintomas, o que ajuda a retardar a progressão da doença”, exemplifica.
Conheça algumas doenças raras que podem ser identificadas a partir do teste do olhinho:
Retinoblastoma – tumor com origem nas células da retina – parte do olho responsável pela visão – que se reproduz de maneira rápida e agressiva. O retinoblastoma é o câncer ocular mais comum em crianças (embora seja raro e corresponda a 3% dos cânceres infantis). Geralmente, se manifesta antes dos cinco anos de idade. “O diagnóstico precoce é essencial, pois o retinoblastoma, se não identificado e tratado em seus estágios iniciais, pode levar à cegueira e até à morte”, alerta o doutor. Os sintomas dessa doença, os quais costumam aparecer somente nos estágios avançados, incluem dor de cabeça, estrabismo, inchaço e sangramento dos olhos e perda da visão. “O tratamento depende do tamanho, localização e extensão do tumor, que é capaz de se espalhar para outros órgãos e tecidos [metástase]. Podem ser realizados procedimentos cirúrgicos, radioterapia, quimioterapia, terapia a laser (fotocoagulação ou termoterapia) e crioterapia”, enumera.
Catarata congênita – apesar de ser uma doença típica de pessoas idosas, a catarata pode ser detectada em recém-nascidos, como resultado da má formação do cristalino durante a gestação. A catarata congênita tem cura se forem realizadas as intervenções necessárias entre seis semanas e três meses de vida. Caso contrário, pode prejudicar a visão de forma grave e irreversível. Geralmente, o tratamento indicado é a cirurgia para substituição do cristalino. Alguns casos podem ser resolvidos apenas com remédios e colírios.
Glaucoma congênito – é uma das maiores causas de cegueira na infância. Ocorre quando o humor aquoso (líquido que circula no interior dos olhos) não flui adequadamente para fora por conta do desenvolvimento inadequado do sistema de drenagem do olho, causando aumento da pressão intraocular. Se não for tratado, pode levar à perda permanente da visão como efeito da lesão do nervo óptico. O glaucoma congênito não tem cura, mas pode ser controlado por meio de intervenções cirúrgicas e do uso de colírios hipotensores.
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